sexta-feira, 3 de março de 2017

UM PÓS-CIÊNCIA?




"(...) sem  fazer  grandes  análises,  repetia  à  saciedade  que  as  novas  teorias  tinham para  ele  apenas  o  valor  de  uma  descrição  estatística,  o  que  não  correspondia  nem à  ideia  que  ele  fazia  da  natureza  das  coisas  ("Deus  não  joga  aos  dados"),  nem  à exigência  lógica  do  princípio  de  causalidade,  que  uma  ciência  digna  deste  nome devia  satisfazer."
"Einstein" (Jacques Merleau-Ponty)

Corresponde isto a uma desvalorização das 'novas teorias'? Deveremos considerar que a 'ciência digna deste nome' acabou com os alvores do século XX, uma vez que a causalidade deixou de ser necessária para avançar no desconhecido?

Não é presumível que fosse esse o entendimento do autor da teoria da relatividade. A sua busca apaixonada não poderia inspirar-se numa 'descrição estatística'. Por outro lado, o sonho de uma única teoria para explicar as leis do universo é mais estético do que 'científico'. Einstein, nisso, era - não se pode negar - quase um discípulo de Platão.

A sua referência à estatística parece indicar que a ciência deixou de ter certezas, que tem de socorrer-se doravante de um instrumento característico das ciências sociais, conhecidas, precisamente, por não serem 'exactas'. Esta tendência levar-nos-ia naturalmente a pensar que a física do passado, a que devemos os grandes impulsos do desenvolvimento técnico, seria como o lastro do foguetão que teríamos de sacrificar para abrir os novos horizontes da humanidade.

Que significado tem, pois, a invocação do 'princípio da causalidade' e a sugestão de que o contributo do próprio Einstein não é ciência ainda (ou que já não é ciência?).

0 comentários: