segunda-feira, 13 de fevereiro de 2017

A DEMAGOGIA SOBERANA

(Maquiavel



“Pode-se sem injustiça satisfazer o povo, não os grandes: estes procuram exercer a tirania, aqueles apenas a querem evitar ... O povo não quer mais do que não ser oprimido.”

(Maquiavel)

Esta definição será ainda actual? Comecemos por afastar o 'maquiavelismo' do pensamento de Maquiavel. Ele apenas tem o conceito da Necessidade que nos veio dos Gregos. E essa Necessidade não é boa nem má: é o que tem de ser. A política é outra coisa. Pertence ao domínio da palavra. No confronto da Necessidade (Ananké) com a palavra, esta esconde-se atrás das mais diversas máscaras. Notemos aqui como uma das ideologias do nosso tempo, a ideologia económica, vestiu as vestes da antiga deusa. É o sentido do 'there is no alternative' (TINA). A diferença é que a crítica da desigualdade é explícita  no  florentino, assumindo que a mesma não está sujeita à lei da necessidade, e naqueles economistas e nos políticos que os seguem, há uma apologia encoberta da desigualdade em nome da própria necessidade. Como se dissessem que a melhor distribuição dos recursos pode implicar a maior das 'injustiças', simplesmente porque a 'justiça' nada tem nada a ver com as 'leis da economia'.

O princípio da liberdade política, em Maquiavel,  é o valor que garante  a possibilidade da justiça, e esse corresponderia, no fundo, à vontade popular. É aqui que se revela a importância das doutrinas e da história do tempo. Apesar disso, poderíamos dizer que esse espírito é ainda o dos 'pais fundadores' da nação americana. A justiça confunde-se com a igualdade de oportunidades.

A revolução digital tornou esse 'ambiente democrático' noutra coisa muito diferente, embora tudo isto surja como um desenvolvimento 'até às últimas consequências' que acaba numa paradoxal indiferenciação dos valores e reversão ou neutralização dos princípios.

Parece que a democratização nunca foi tão longe, e a palavra nunca foi tão livre, mas o papel da elite do pensamento, da 'super-estrutura' ideológica referida por Marx deixou de ter relevância. Começamos a conhecer, em todo o seu esplendor o 'Grande Animal' platónico. A cabeça desse animal existe, múltipla e invisível, mas fora dele. Chamar-lhe sistema seria demasiado simples.

Sendo assim, de que vontade geral estamos a falar? E que é isso de 'satisfazer o povo'? A demagogia é de 'todos os tempos'. Hoje confunde-se com o ser e a vontade do próprio povo.

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