sexta-feira, 2 de dezembro de 2016

FAZER O PINO




"Eles  vão  recolher  à  'Enciclopédia  Hegeliana'  a  riqueza  de  estruturas,  que  a partir  dessa  altura  passaram  a  ficar  disponíveis,  a  fim  de  explorarem  todas  as virtualidades  das  distinções  elaboradas  por  Hegel  com  vista  a  um  pensamento radicalmente  histórico."
(Jürgen Habermas)

Os 'Jovens Hegelianos', dos quais Karl Marx foi o mais influente, são criaturas pós-diluvianas. O mundo feudal, porém, tinha a sua Arca de Noé e conseguiu restaurar-se sob outras formas, como a monarquia constitucional.

A grande tarefa do 'radicalismo histórico' parecia infinita. Tratava-se nada menos do que uma outra criação do mundo na perspectiva dialéctica, ordenando o caos da história natural e imitando o fechamento da teologia.

Diferentemente dos revolucionários de 1789 e dos émulos de Robespierre que se sentiram na necessidade de inventar uma deusa da Razão, no lugar de Deus, o 'materialismo dialéctico' procurou 'deduzir-se' inteiramente da História. Não da crónica confusa dos acontecimentos, mas de uma história já contada. Ou melhor, de uma reinterpretação retroactiva que desse sentido e acabamento às ideias do movimento político em ruptura com o 'velho pensamento'. E, aparentemente, também com o velho professor de Iena cujo bom juízo era posto em causa por ter deixado a teoria de 'cabeça para baixo'.

Devia ter sido motivo de espanto para todos os filósofos que uma simples inversão como esta, que era pedida a uma ideia genial, bastasse para repor a verdade no seu soclo...

O que resultava disso é que se podia sempre alcançar a verdade recorrendo a Hegel, mas pedindo-lhe para fazer o pino.


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