quarta-feira, 7 de setembro de 2016

OS DENTES DO DRAGÃO

Mahmud I

"(...) mas isso não impede que cada um seja senhor de se condenar, se isso o diverte. Os Turcos devotos lamentam os libertinos, mas não os perseguem. Não há nenhuma inquisição na Turquia. Aqueles que não observam os preceitos da religião, dizem eles, serão já bastante infelizes na outra vida, para que seja necessário fazê-los sofrer nesta."

"Memórias de Casanova"

A intolerância de hoje parece não ter nada a ver com a situação que descreve o cristão convertido ao islamismo que assim se exprime nas "Memórias".

No entanto, o Corão já continha todas as virtualidades daquilo em que o fundamentalismo radica hoje a sua violência.

Dir-se-ia que os dentes do dragão, enterrados durante séculos, só estavam à espera da sua aurora para formarem o alfabeto da morte.

Esse despertar de antigos ódios vem pela mão das tecnologias da comunicação.

Acabaram-se os mundos perdidos ou exóticos. Tudo está debaixo dum único olhar planetário.

Chegou-se ao ponto em que as diferenças, sejam elas económicas ou culturais são vistas por uns como riqueza e estímulo e por outros como humilhação e ameaça à sua identidade.

É como uma revolta dos escravos dirigida contra a boa consciência dos que os "libertaram".

A informação instantânea torna a liberdade dum desenho que se pretendia local num sarcasmo de patrício romano feito ao planeta.

Todos admitimos que tenha existido uma perfeita manipulação.

Mas algum súbdito da Porta, nos tempos de Mahmud I, se sentiria (se saberia) atingido?

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