quinta-feira, 24 de janeiro de 2008

DEBATE ENTRE O OLHO E A ORELHA


Stendhal e Victor Hugo

"Hugo não gostava de Stendhal; recusava-lhe o estilo. Eu gosto de ambos; mas confesso que Hugo é demasiado longo para mim. Leio-o a correr, e passo mesmo à frente. Vejo por de mais para onde ele vai; ele desenvolve quase sempre uma ideia comum, mas emocionante: justiça, caridade, lealdade, coragem, fraternidade, desenvolve-a sem a explicar; não acrescenta nada; só que mexe connosco." Pelo seu lado, Stendhal "É um autor que é preciso reler de instante em instante; porque não repete nem desenvolve nada; é como uma paisagem longínqua: quanto mais nos aproximamos, mais descobrimos; por isso não tem ritmo; não arrasta; não quer arrastar; isso iria contra a sua arte."

"Propos de Littérature" (Alain)


Para Alain, este é um debate entre o olho e a orelha. Hugo, o orador, move-nos pela eloquência da palavra; as suas redundâncias são como boas-maneiras destinadas a cativar-nos.

Stendhal deixa-nos mais livres e apela em nós para a inteligência apenas. Uma ideia, que no outro interromperia o ritmo e o passo militar, obriga-nos a parar e a contorná-la como a uma bela estátua. O que quer dizer?

Quem tem alguma experiência das assembleias, sabe que são o reino da orelha. O movimento é tudo e a ideia é nada. Passa desapercebida, ou escandaliza.

Em compensação, os quadros e as projecções que acompanham certas alocuções deixam-nos frios. O colectivo não se chega a fusionar e a razão tem muito mais hipóteses.

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