segunda-feira, 20 de fevereiro de 2017

A SIMULTANEIDADE

Morton Feldman (1926/1987)

"Picasso, que descobriu o cubismo em Cézanne, desenvolveu a partir disso um sistema. Não viu a contribuição capital de Cézanne. Não era como fazer um objecto, não como esse objecto existe pelo tempo, no tempo ou à volta do tempo, mas como esse objecto existe como tempo. O tempo reencontra-se. Como Proust o mostrou na sua obra. O tempo é como uma imagem, como o sugeriu Aristóteles. Foi a superfície que as artes visuais começaram mais tarde a explorar. Foi a superfície que a música, iludida pelo facto de ser calculada em segundos, tinha negligenciado."

"Entre des catégories" (Morton Feldman, citado por Eric De Visscher, in "Surfaces du temps")

Feldman inspirou-se na pintura, na superfície do quadro, para imaginar um quadro sonoro que impedisse "o som de cair por terra", esforçando-se por "mantê-lo no plano".

É a coexistência de todos os fenómenos que nega a ideia de entropia e, logo, de uma direcção para o tempo, ao encontro da tese parmenidiana dum mundo imóvel, que não muda.

A terceira dimensão, mesmo simulada na pintura, abre uma direcção para o tempo. E o cubismo explica essa ilusão, mostrando as direcções virtuais do tempo ocultas nos objectos de um plano.

O que Feldman vê na pintura de Cézanne é a dissolução das formas que designam um lugar no quadro para o antes e o depois, que "ocupam um espaço pré-existente, como um apartamento que arranjamos, dispondo os móveis em todos os espaços disponíveis" (E. De V.)

A crítica da perspectiva, em Cézanne, obriga-nos a repensar o tempo e ... a razão. É (um)a ordem racional que com o fim da perspectiva se põe em causa.

0 comentários: