terça-feira, 21 de fevereiro de 2017

O LUGAR VAZIO

O rei Cristiano VIII


Cristiano VIII da Dinamarca terá perguntado a Sören Kierkegaard como achava ele que um rei se devia conduzir. Eis a resposta do filósofo: "Primeiro, seria bom que o Rei fosse feio (Cristiano VIII era muito bem parecido). Depois devia ser surdo e cego, ou pelo menos comportar-se como se o fosse, porque isso resolve muitas dificuldades... E depois, não deve dizer grande coisa, mas ter um pequeno discurso-tipo que pode ser usado em todas as ocasiões, um discurso por isso sem conteúdo."
"Unended quest" (Karl Popper)

Este é o ideal do rei-símbolo, como o Kagemusha ("A sombra do guerreiro") de Kurosawa. É como se não falasse a língua dos outros homens e tivesse descido de outro mundo.

Um rei assim podia ser amado, e as suas palavras, de concisas e sempre as mesmas, adquiririam o seu quê de oracular, sem se comprometerem com nenhuma opinião, sem sofrerem a mais longínqua conotação com o espectro partidário.

Devia ser revelador que esse ideal seja hoje considerado anacrónico.

Espera-se que o "presidente de todos" tome partido, sem ser partidário. E é por isso que esse é o lugar do discurso vazio por excelência. Mas enigmático e susceptível de ser apropriado por uns e por outros.

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